O que acontece conosco ao parar de tomar remédios para TDAH?

O que acontece se pararmos de tomar os remédios para TDAH? As medicações para TDAH mais comuns disponíveis no Brasil são a Ritalina, Concerta e o Venvanse. Eu já experimentei todos eles, e o que mais tempo me adaptei foi a Ritalina de 10mg. Eles podem apresentar diferentes reações, efeitos colaterais ou efeitos rebote (que ocorrem ao final do efeito do medicamento) em cada pessoa.

Neste artigo, compartilho com vocês a verdade sobre o que aconteceu comigo ao parar de tomar a medicação prescrita para quem tem TDAH. Esta experiência trouxe importantes revelações sobre meus comportamentos e um autoconhecimento da minha pessoa e necessidades como uma pessoa com TDAH. A partir desta reflexão, convido você a viver e experimentar também importantes revelações sobre si mesmo.

Ao deixar de tomar o remédio para TDAH, neste caso a Ritalina, pensei e decidi colocar em prática várias estratégias para superar o TDAH como planejar minhas atividades com o apoio do Microsoft To Do, organizar, usar mais e cumprir a Agenda Google, praticar exercícios físicos todos os dias, mudar meus hábitos alimentares, eliminar o açúcar e os carboidratos, a fim de manter a performance e melhorar minha saúde física e mental.

Fonte: Canva

O QUE PARECIA UMA SIMPLES DECISÃO, COMPLICOU, TORNOU-SE MAIS DIFÍCIL!

 O plano e as estratégias, aparentemente fáceis, tinham como fundamento a decisão de parar com a medicação – simples assim. Porém, na verdade, sem a medicação do TDAH, tudo ficou bastante difícil. Tarefas como organizar, colocar em prática o planejamento, iniciar uma ação, executar tudo o que havia estabelecido, mesmo que fosse produzir algo que eu gostasse muito de fazer. Até isso, ficou quase impossível de realizar. O que parecia simples se tornou difícil, impossível.

Nesse momento, senti a falta daquela sensação inicial de quando se toma a medicação. Daqueles trinta minutos após ser medicado. Você se sente com toda capacidade e potencial saindo de dentro de si, sem sentir nenhum efeito colateral.

Aquele pico de produtividade que leva agir quando se toma o remédio, tudo acontecia como num passo de mágica. Assim, medicado, fazer qualquer atividade do planejamento era fácil demais, executar era lindo.

O FAZER COMO PASSO DE MÁGICA, FICOU PARA TRÁS. 

Após os remédios para TDAH, fazer o roteiro para vídeo, eu conseguia fazer cinco de uma vez, para não perder tempo. Focar em algo, mesmo que não fosse interessante, era muito fácil. Realizar uma tarefa fluía como passo de mágica.

Era como alguém que tem miopia, ao colocar os óculos adequados, passou a enxergar tudo de forma clara. Dessa forma, a vida a sua frente se torna mais segura, mais fácil.

Posso afirmar a todos que senti falta daquele poder de desejar algo, pensar e, logo, executar. Infelizmente, o pensar e o agir ficaram muito mais difíceis sem a medicação do TDAH. Tentava executar aquilo que havia me comprometido, tentava, tentava…, mas meu cérebro não estava colaborando. Meus dias resumiram naqueles dias que você, pessoa com TDAH, deve saber bem e estar passando também por isso que passei. Tinha o dia inteiro para realizar uma tarefa importante, ao passo de realizá-la, passava o dia enrolando e protelando aquela atividade mais importante.

Ao invés de fazer a caminhada do dia e de fazer o roteiro para um vídeo, eu simplesmente, desviava o foco e saia para comprar uma rosquinha de coco no supermercado, mesmo sem vontade e sem fome. Eu arrumava tempo para tarefas secundárias. As atividades importantes, que fazem a diferença na vida, foram deixadas para trás.

No lugar dessas atividades, arrumava outras coisas para fazer como colocar roupas na máquina de lavar, passar horas pesquisando assuntos menos importantes no YouTube e horas pesquisando, também, os produtos em sites de compra, sem qualquer necessidade daquele produto.

A FÓRMULA MÁGICA… SIMPLES – NÃO EXISTE!

Enfim, seria muito bom encontrar e dizer aqui a fórmula mágica para vencer o TDAH. Eu venci o TDAH, sem necessidade dos remédios ou qualquer outra intervenção. Não foi bem isso que aconteceu comigo. A minha ansiedade foi a mil todos os dias, eu descontava a irritabilidade ansiosa na comida, ganhei peso, porque me sentia um “tatu bola”, sem conseguir produzir nada. Só ficava enrolando o dia todo, fazendo coisas secundárias e sem valor naquele momento. Não produzi nada daquilo que havia planejado, só distraia com outras coisas sem a menor importância ao longo do dia.

Após dois meses, ansioso e frustrado comigo mesmo, decidi voltar a tomar os mesmos remédios para TDAH que havia deixado na gaveta e, a partir daí, lentamente, a minha vida voltou a funcionar, destravar os impasses e as minhas dificuldades.

Frente a tudo isso, existe muito estigma e preconceitos sobre os medicamentos para o TDAH, principalmente de pessoas que não vivem o que vivemos. Não sentem na pele o que sentimos no dia a dia. Preconceito de quem não conhece a nossa realidade.

Veja bem, eu mesmo reconheço que não sou uma pessoa tão produtiva, mesmo tomando os medicamentos, mas quero lhe dizer eu só consegui fazer esse roteiro, largar de fazer atividades secundárias, conseguir sentar, escrever, ligar a câmera e gravar esse vídeo, após tomar o medicamento – o que era difícil ficou fácil e acessível.

Portanto, não tem mistério, não tem fórmula mágica nem alternativa, nem método infalível ou sensacional, nada disso se quer existe. TDAH pode ser complexo de se explicar, mas é relativamente fácil de entender por aqueles que sentem e vivem o drama na pele. Você vai sofrer prejuízos diários em tudo o que for executar, até mesmo nas coisas que você gosta de fazer. Encontrará dificuldades, principalmente, em iniciar qualquer tarefa simples ou complexa.

A NOSSA QUESTÃO NÃO É MÁGICA – É NEUROQUÍMICA, É NEUROBIOLÓGICA.

Você só conseguirá avançar, se conhecer a si mesmo verdadeiramente, saber o que funciona ou não funciona para você.  Não venho, aqui, afirmar que o medicamento é a única saída, mas ela é uma importante saída, reconhecida, bem como, a prática diária de atividade física, ir ao terapeuta semanalmente, melhorar a alimentação, tudo ajuda numa determinada fração da vida, pois a nossa questão é neuroquímica e neurobiológica e ela necessita de reforço, principalmente onde mais falta.

Tenho TDAH, já fui concursado 12 anos no Banco do Brasil, e hoje empresário. Às vezes, fico surpreso com estas conquistas. Porém, tenho consciência de que não sou um funcionário brilhante ou funcional. Na verdade, tenho apresentado um trabalho aquém do que realmente sou capaz de produzir. Na empresa, reconheço que estou bem aquém do que eu posso estar, mas encontrei o meu jeito de permanecer trabalhando do meu jeito e seguindo com as conquistas. Consegui até escrever um livro.

Mesmo com TDAH e tomando os remédios, estarei diante de novos desafios, mas não posso largar tudo, jogar para o alto e achar que a vida se resolve sozinha. Eu e você, caro leitor, apesar de sofrermos demais até aqui. Temos que nos comprometer e levar com responsabilidade nosso tratamento e o nosso autoconhecimento, a fim de continuarmos avançando. 

A partir desses relatos, espero ter contribuído com vocês a avançarem, colocando em prática seus projetos e superando os desafios de quem traz consigo o TDAH.  Neste sentido, compreender a si mesmo, saber escolher o melhor tratamento para si, respeitar as limitações, não ter medo, enfrentar e superar as dificuldades diárias, tudo isso ajudará a viver bem com experiências lindas de superação, dignas de serem compartilhadas.

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Sobre o Autor


Yuri

Yuri Maia

Yuri Maia tem TDAH e é ativista político pela causa, possui mais de 1000 vídeos gratuitos em seu canal do YouTube, além de cursos e mentorias. Criador do Instituto TDAH Descomplicado e membro do MOVIN - Movimento Para Inclusão.

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